Viva a sua Dispensabilidade

A maior dádiva que possuímos é a "dispensabilidade"; ter a qualidade do que é dispensável, é mais indispensável do que se imagina! 

Sabemos o quanto é terrível o sentimento do descarte, da instabilidade, da incerteza, porém, sabemos que é igualmente terrível é a sensação de estar preso a uma condição, não conseguir determinado objetivo, ser privado de sensações que poderiam ser sua, caso não houvesse o impedimento por você ser o que é.

Como exemplo, poderíamos pensar hipoteticamente em um profissional, que teve como escapatória sua formação para não ser prejudicado  na lotação de sua nova unidade de trabalho, porém, vê-se  preso a sua nova função, inclusive com perdas de melhores oportunidades, por ser indispensável seu emprego no quadro da empresa, especificamente naquele lugar e horários.

Exemplos práticos como este, mostra-nos que ser mais um, ou viver na vala comum, nem sempre é tão desfavorável assim; As oportunidades aparecem como chuva, e elas não irão cair sobre aqueles que já estiverem abrigados; ouvir de alguém que "você não é descartável" deve nos trazer dois sentimentos: satisfação e preocupação: satisfação pois você é importante para aquela pessoa ou lugar, e preocupação por que você não será tolerado, perdoado, esquecido, abraçado, amado, favorecido,  entendido, e por fim, oportunizado como os demais, pois, trazer-lhe as mesmas condições dos "outros", pode significar ter que abrir mão de você, lhe perder, ou ter que, simplesmente, entender que não há controle sobre o ser especial que é você.

É o mesmo que acontece com os pássaros quando passam a ser admirados por seus cantos. Por não ser um pardal, vive eternamente preso em uma gaiola, porém, cevado e bem cuidado por aquele que lhe admira... Entretanto, quando esse pássaro observa que o seu dono coloca néctar para os beija-flores, percebe que aqueles recebem a mesma admiração e cuidado do seu proprietário, porém, sem a limitação imposta a ele, pois apesar da beleza e graça do beija-flor, você tem algo há mais, conquistou mais que os olhos, ganhou a alma   daquele ou daquilo que passa a depender de você por perto.

Logo, seu diferencial, passou de vantagem a desvantagem, virou uma mista de sentimentos controversos, uma guerra sem tréguas dentro de você... Seu dom virou algema, sua habilidade limitou suas possibilidades, talvez não por culpa sua, mas pelo medo sentido por aquele em não mais dominar você, quando simplesmente você queria ser igual aos outros, porém, sua natureza lhe trai, e você se destaca, tornando-se cativo de seu próprio talento.

Por isso, não permita que suas habilidades, diferencial, exclusividade, presença, ou disponibilidade torne-se em uma algema cujo as chaves estejam nas mãos alheias, por mais que lhe limitem por admiração ou necessidade, ou pelo  simples medo de você não mais permanecer por perto, você precisa deixar claro que precisa ter todas as vantagens e desvantagens dos beija-flores, que mesmo não fidelizando os cuidados do seu admirador, sempre voltam, pois sabem o sabor do néctar que lhe favoreceu aquele que lhe admira.

Possua as chaves de suas limitações, não entregue a alguém. Prefira a ser dispensável, e goze de todas as oportunidades dos demais; quando então você sentir a necessidade de se prender a situação que experimentou, então chegou a hora de jogar a chave fora, e viver em exclusividade  para aquele ou aquilo... É indipensavel ser livre, porém, mais indispensável ainda é poder decidir quando não se quer mais a Liberdade.



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